segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Moda-Verão o ano todo Maria Alice Rocha

Parece estranho, mas o aquecimento global já está provocando preocupações até no meio da moda. Esta, muitas vezes enquadrada na opinião pública geral como superior a diversidades, ou como "blindada" a adversidades, parece mostrar que também tem o seu lado, se não humano, frágil.
Nesta temporada de moda, o que mais se ouviu nos comentários de economia e distribuição da cadeia têxtil foi a dificuldade de colocar no mercado o produto certo no momento adequado. A reclamação não é referente a lançamentos em semanas de moda ou à publicidade, mas ao mundo real dos consumidores, que na verdade nua e crua, é quem movimenta esse setor.
Explicando melhor, as recentes mudanças climáticas têm sim afetado e muito o consumo de roupas no final da cadeia. Mesmo com o lançamento da coleção de inverno, se os consumidores não sentem frio, não há como as mercadorias sairem das prateleiras, e por aí vai.
As empresas européias e norte-americanas têm se queixado continuamente da meteorologia. No hemisfério norte o inverno 2006-07 veio tardiamente, o que acarretou um encalhe sem igual de produtos no final do ano na maioria das lojas.
Muitas lojas, já prevendo um imenso prejuízo, iniciaram as liquidações com bastante antecedência, algumas até antes do Natal. O resultado foi uma enxurrada de promoções, descontos e liquidações por quase três meses.
As peças de inverno, geralmente mais caras, tiveram os seus preços reduzidos para chamar os compradores. De certo, foi uma ótima oportunidade para os consumidores, mas deixou a saúde financeira das empresas fragilizada.
Neste exato momento do ano, no qual as coleções de primavera-verão devem despontar nas vitrines do hemisfério norte, não se tem uma clara certeza de que o inverno já acabou. Já no hemisfério sul, onde o verão deveria estar se despedindo, o que se vê são ondas de calor atípicas em intensidade e posição geográfica.
Claramente, é possível prever para breve o fim do calendário de moda baseado nas estações do ano. Se o grande trunfo que a indústria da moda tinha para estimular a troca nos guarda-roupas pelo menos duas vezes por ano era o clima, é hora de rever esse paradigma.
A cadeia têxtil engloba desde a indústria de fibras e corantes até o varejo, passando por tecelagens, fabricantes de aviamentos, ateliês, estilistas, oficinas de montagem, etc. Enfim, abrange tudo que direto ou indiretamente pode estar envolvido na fabricação de uma peça de roupa.
Mesmo considerando este emaranhado de empresas, prevê-se dificuldades da cadeia têxtil com o convencimento dos consumidores, cada vez mais conscientes, a usarem roupas termicamente desconfortáveis.
Os estilistas já começaram a receber sugestões dos seus departamentos de marketing e vendas para a criação de coleções mais ambíguas, versáteis e adaptáveis aos "novos tempos". Inovações têxteis que incluem roupas com termostato já existem, mas ainda não estão disponíveis em larga escala por questões técnicas e de custos.
O grande desafio parece ser como mudar os processos de produção e comercialização. Classicamente, a indústria da moda é baseada nos processos de desenvolvimento de produtos: dois anos de antecedência para fibras e cores, um ano e meio para tecidos e acabamentos, um ano para formas e silhuetas, seis meses para o lançamento do produto.
Baseada nessas premissas, a indústria do vestuário mudou radicalmente a sua matriz de produção nos últimos vinte anos. A criação é na Europa ocidental, mas a produção foi para a Ásia. A grande exceção parecia ser o grupo espanhol Inditex, proprietário da gigante Zara, considerada como a criadora do processo "fast-fashion" (moda rápida em inglês).
A proposta da Zara, copiada por outros grupos, era seguir na sombra dos lançamentos das grandes marcas, diminuindo o investimento em desenvolvimento de produto (estilo). Mais que isso, o grupo espanhol acreditava que ao possuir o controle de todo o processo da cadeia têxtil - da fiação às milhares de lojas de varejo espalhadas em todo o mundo -, poderia diminuir aqueles prazos de dois anos, um ano e meio, um ano, seis meses, explicados anteriormente.
Até que o plano funcionou por um período razoável e os lucros foram estratosféricos. No momento, não somente a Zara, mas outras marcas de grandes volumes como a H&M e Gap, estão revendo o modelo devido às mudanças climáticas do planeta.
As alterações, que parecem simples aos olhos do consumidor - trocar um casaco por uma camiseta - devem incluir, além de novas parcerias da produção e no design das roupas, inovações no sistema de estoque e até mesmo na concepção das vitrines.
A idéia de desvincular lançamentos de moda das estações do ano, indubitavelmente deverá ser o próximo passo. No mundo globalizado, as diferenças entre mercados dos hemisférios norte e sul não passarão de um detalhe geográfico. A natureza, em fúria, ditará os caminhos da moda.

LEMBRETE BÁSICO e que ultimamente não tem influenciado na moda
Inverno- 22 de junho a 21 de setembro
Primavera- 22 de setembro até 21 de dezembro
Verão- 22 de dezembro a 21 de março
Outono- 22 de março a 21 de junho

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